
Ele me apareceu de relance, sem relevância num simples susto cotidiano.
O primeiro erro foi ter notado sua beleza peculiar, a maneira que se apresentava diferente aos outros que o envolvia. Embora eu soubesse que ele era normal.
Aos poucos fui perdendo minha atenção em sua armação, na curvatura de seus fios bagunçados, na modelagem dos seus braços no tecido fino da camisa rasgada. E quase sem perceber perdia minha visão sobre sua face tão comum e ao mesmo tempo diferente a tudo o que eu já tinha visto.
Buscando defender-me revesti aquela situação com piadas e tiradas cômicas. Mas a mentira que eu contava pra mim mesma todos os dias já não me convencia mais.
O segundo erro foi imaginar a existência de um desejo, antes mesmo de racionalmente catalogar esse pensamento eu já estava entregue aquele problema.
Aos poucos ele se fazia notável em todos os lugares daquele lugar, do inicio ao fim ele existia imperativamente com o propósito de me torturar. Eu queria que ele ouvisse minha voz, que me deixasse ouvir a sua também, mas não existia nenhuma ligação entre nós.
No meio de meus problemas entre um reflexo e outro dentro do ônibus, eu o vejo em pé. Questionei o destino, perguntei se eu precisava me perder naquele jogo, se eu teria um final feliz. Ele nada me respondeu aumentando minha curiosidade.
Todos os dias quando eu vacilava em meus pensamentos uma referencia a ele era projetada no poço de minhas vontades.
Por muito tempo fui levando assim, ele lá e eu aqui. Eu o via e ele não me enxergava. Talvez eu o quisesse, embora ele não me desejasse.
Até que no comum do dia normal ele surpreendentemente dirigiu-se a mim. Foi um olá, um abraço e um sorriso. Sem querer tinha assinado minha morte com aqueles três atos.
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